O período seco de vacas leiteiras é a época de maior suscetibilidade para adquirir novas infecções intramamárias (mastite). Para esse período, as vacas contam com uma importante defesa natural: o tampão de queratina que fecha o canal do teto, criando uma barreira física que impede a entrada de bactérias na glândula mamária. Entretanto, alguns estudos mostram que metade dos tetos, nos 10 primeiros dias, ainda não formaram esse tampão e, em alguns casos, ele pode até mesmo nem se formar. Portanto, demanda aplicação de substâncias selantes.
Dessa maneira, as bactérias causadoras das infecções intramamárias podem entrar na glândula mamária antes do completo fechamento do canal do teto pelo tampão. Em um estudo foi verificado que 71% das infecções clínicas causadas por coliformes, ocorridas nos primeiros 100 dias de lactação, tem sua origem no período seco anterior. Isto é, as bactérias entram no úbere, porém a mastite só se manifesta após o parto, na lactação.
Terapia da vaca seca
Para isso, já há muito tempo, existe a terapia da vaca seca, que consiste em aplicar uma bisnaga de antibiótico de longa duração em cada teto no momento da secagem da vaca. O objetivo é tratar os casos subclínicos de mastite que ocorria durante a lactação e evitar essas novas infecções no período seco. Porém, o insucesso em algumas dessas terapias tem provocado interesse por produtos alternativos.
Selantes de tetos
O objetivo desses produtos consiste no bloqueio físico do canal do teto da vaca contra a entrada de bactérias causadoras de mastite durante o período seco.
Inicialmente, surgiram os selantes externos, um produto viscoso em que ao emergir os tetos, formavam uma película como se fosse um adesivo que envolvia toda a superfície externa dos tetos. Como a permanência desse produto ficava, em média, apenas cinco dias, os resultados não foram satisfatórios e sua utilização caiu em desuso.
Surgiram então os selantes internos (figura 1), que nada mais são do que pomadas dentro de bisnagas intramamárias, feitas à base de parafina e subnitrato de bismuto, que são administrados no canal do teto no momento da secagem das vacas, bloqueando fisicamente esse espaço e impedindo a entrada de microrganismos na glândula mamária.
Figura 1:
(adaptado de Carneiro Filha et al., 2006).
Associação entre antibiótico intramamário e selantes
O uso do selante interno não descarta a utilização do antibiótico intramamário para vacas secas. Eles devem ser usados em conjunto, sempre desta forma: primeiro a bisnaga de antibiótico e, logo depois, o selante. Em estudo, já foi comprovado que essa associação reduziu em 48% o risco de mastite clínica na lactação subsequente, comparando com vacas que receberam apenas o antibiótico intramamário.
Sem riscos!
Selantes internos são substâncias inertes, não são absorvidos pela glândula mamária e podem persistir durante todo o período seco. A sua remoção pode ser feita manualmente, na primeira ordenha, ou até mesmo na primeira mamada do bezerro, sem causar algum mal a ele.
Cuidado na aplicação
A aplicação do selante deve ser feita de forma bem lenta e de maneira nenhuma deve-se massagear o teto, pois o intuito é justamente manter o produto aplicado no canal e na cisterna do teto.
É importante salientar ainda que a aplicação de selantes de tetos somente será eficiente se, concomitantemente, forem utilizadas todas as medidas de manejo preventivo da mastite.
André Navarro – Médico Veterinário
REFERÊNCIAS:
BRADLEY, A.J.; GREEN, M.J. A study of the incidence and significance of intramammary enterobacteriacel infections acquired during the dry period. Journal of Dairy Science, v.83, n.9, p.1957-1965, 2000.
Machado e Bicalho (2018). Journal of Dairy Science. 101:1388–1402. (https://doi.org/10.3168/jds.2017-13415).