Para produzir leite os animais precisam de nutrientes e energia oriundos do alimento. Entretanto, o manejo alimentar de bovinos leiteiros vai além da formulação de uma dieta. É preciso almejar que a dieta formulada seja preparada e fornecida adequadamente ao animal para que possa ser aproveitada de maneira eficiente em todo seu metabolismo.
Sendo assim, a produção leiteira é altamente dependente de um eficiente manejo alimentar. Mas como deve ser esse manejo? Para saber mais sobre o assunto continue com a leitura.
Formulação de dieta exige pesagem de leite
O acompanhamento da produção das vacas em lactação é o parâmetro para o fornecimento adequado de alimento. Por meio deste dado é possível fornecer a cada animal o que ele realmente precisa para se manter e produzir leite.
Caso este acompanhamento não ocorra, muitos animais receberão menos ou mais alimento do que precisam. No primeiro caso, o desempenho produtivo será comprometido uma vez que o animal estará em condição de subnutrição.
Entretanto, ao fornecer um volume maior do que necessário, o produtor estará desembolsando mais recursos financeiros com alimentação sem que haja retorno na produção. Sendo assim, a viabilidade financeira do empreendimento pode ser comprometida.
Em posse de dados informativos sobre as demandas dos animais é hora de partir para os meios de suprir as necessidades nutricionais dos animais.
Volumoso vs. concentrado
Um concentrado é aquele alimento com baixo teor de fibra e alto valor energético. Em contrapartida, um alimento volumoso possui alto teor de fibras e baixo valor energético.
O balanço entre concentrado e volumoso exerce grande influência na composição final do leite. Portanto, no momento da formulação de uma dieta deve haver o entendimento e equilíbrio desses componentes.
Ademais, o metabolismo do alimento é realizado por meio de um complexo entre o rúmen do animal e a microbiota presente nele. Os alimentos concentrados são estimulantes de bactérias amilolíticas que degradam amido e açúcares produzindo ácido propiônico. A degradação das fibras dos volumosos pelas bactérias celulolíticas produz os ácidos acético e butírico.
Os ácidos acético e butírico são precursores dos ácidos graxos constituintes da gordura do leite. Então, altos teores de concentrados na dieta podem desbalancear a produção destes ácidos e diminuir o pH ruminal comprometendo os teores de gordura.
A fermentação ruminal dos alimentos concentrados leva à produção de ácido propiônico. Este ácido ocasiona maior produção de proteína microbiana (Pmic) e, consequentemente, maiores teores de proteína no leite.
Portanto, deve haver um equilíbrio entre os teores de acetato e propionato produzidos. Dessa forma, a relação volumoso x concentrado da dieta deve estar próxima de 40:60. Valores inferiores comprometerão a gordura do leite.
Quais componentes de um alimento eu devo conhecer?
Os alimentos de uma dieta são os responsáveis por fornecer os vitaminas, minerais, energia, entre outros, para atender os requisitos nutricionais dos animais. Os componentes a serem analisados em um alimento para bovinos são:
Teor de Fibra
As fibras são responsáveis pelo estímulo à mastigação e ruminação. Além disso, atuam na formação dos ácidos acético e butírico, como mencionado acima. É conhecida como fibra em detergente neutro (FDN) e carboidratos fibrosos.
O estímulo ao metabolismo pelos animais é influenciado pelo tipo e tamanho das partículas fibrosas. Sendo assim, existe ainda a subdivisão em FDN efetiva (FDNe) e FDN fisicamente efetiva (FDNfe).
A FDNe é definida como a fibra responsável pelo estímulo à mastigação. Dessa forma, a FDNfe é a parte da FDNe que efetivamente estimula mastigação, salivação e ruminação, pois avalia a qualidade da fibra e o tamanho da partícula.
Proteína
A proteína é a fonte de fornecimento de aminoácidos aos animais, uma vez que são essenciais para a síntese da proteína do leite.
Muitos cálculos de arraçoamento levam em consideração o teor de Proteína Bruta (PB). Entretanto, o mais importante é conhecer a parte desta proteína que realmente será utilizada pelo animal e esta fração é conhecida como proteína metabolizável.
Teores de energia
A energia do alimento pode ser entendida a partir dos nutrientes digestíveis totais (NDT), energia digestível (ED) e energia metabolizável (EM).
O NDT é o parâmetro em que o teor energético é expresso em porcentagem de matéria seca. É um dos mais utilizados em território nacional para o cálculo de dietas.
A energia digestível é obtida por meio da diferença entre a energia que o animal consumiu e aquela que ele eliminou nas fezes. Já a energia metabolizável é a ED subtraindo-se a energia eliminada também na urina e nos gases. Tanto ED quando EM são expressos em cal, Kcal ou Mcal.
O que avaliar para saber se o consumo está adequado?
Para saber se a dieta fornecida está sendo efetiva alguns itens devem ser avaliados. Alguns deles estão apresentados a seguir:
Ingestão de água
A ingestão de água está diretamente relacionada ao consumo de alimentos, pois para metabolizar o que ingere, o animal necessita da água em seu organismo. Além disso, representa cerca de 87% do volume total de leite.
Dessa maneira, o fornecimento de uma água de qualidade e em abundância também faz parte do manejo alimentar de bovinos leiteiros eficiente.
Mistura de ingredientes
Os alimentos concentrados são mais palatáveis e, por isso, os animais quando se alimentam consomem estes ingredientes primeiro. Porém, isto não é desejável, pois como já mencionado, ocasiona desequilíbrio da microbiota ruminal.
Sendo assim, a dieta total, na qual são misturados todos ingredientes concentrados e volumosos, deve ser misturada de maneira que haja distribuição homogênea dos alimentos.
Figura 1 – Ingredientes concentrados separados e pesados para composição de dieta.
Matéria Seca (MS)
As vacas, para sua manutenção e produção, necessitam de quantidades fixas de nutrientes. Por isso, os cálculos das quantidades dos alimentos a serem fornecidos são realizados em base de matéria seca.
Além disso, é utilizada a ingestão de matéria seca (IMS) como parâmetro para avaliar a quantidade da dieta que será consumida pelo animal.
Escore de cocho
Deve ser mensurado diariamente para poder inferir se a dieta fornecida está sendo adequadamente consumida pelo animal. Grandes sobras podem estar relacionadas à falta de qualidade da dieta, pode indicar algum comportamento mais apático dos animais, como por exemplo, alguma enfermidade, ou também estar relacionada à uma dieta super estimada.
Cocho “raspado” pode estar relacionado a uma dieta em que os animais estão subnutridos devendo haver ajuste de fornecimento do alimento.
O manejo alimentar de bovinos leiteiros é fundamental para o sucesso
Portanto, fica claro o quanto o manejo alimentar de bovinos leiteiros é importante em uma fazenda quando se preza por boa produtividade. Entretanto, o sistema de produção de leite é uma junção de diversos fatores sendo que o tripé da produção é um manejo nutricional eficiente, genética e bem-estar do rebanho.
Todos esses tópicos fazem parte do que chamamos de Boas Práticas Agropecuárias e são abordados a fundo em outros conteúdos da Comunidade Gado de Leite, acesse e fique por dentro.
Fontes: Alexandre Pedroso , Canal Rural, Junio Martinez , Estratégias para Monitoramento de Dietas para Gado de Leite, Macedo Júnior et al. (2007), Rehagro, Revista Leite Integral, Rodrigo de Almeida