A reprodução é um dos itens mais importantes quando o assunto é o retorno econômico da propriedade. Os problemas reprodutivos culminam não somente em aumento do intervalo entre partos como a menor produção de leite, o abate precoce de fêmeas em idade reprodutiva e o consequente aumento dos custos operacionais. Com isso, tem-se a necessidade de um maior número de animais de reposição, que pode não ser a alternativa mais viável quando comparado com a indução à lactação.
Neste artigo, vamos explicar melhor como são os protocolos de indução de lactação e quais resultados podemos esperar! Confira!
Como funciona a indução da lactação
A indução da lactação faz com que a secreção de leite seja iniciada mesmo sem a concepção de um bezerro, graças a um protocolo hormonal que visa imitar o final da gestação da vaca. Dessa forma, é possível aproveitar vacas inférteis presentes no rebanho, além de abater perdas e custos de reposição derivados da falha reprodutiva. Além disso, essas vacas tem oportunidade de reprodução adicional durante esse período induzido de lactação, no qual muitas passam a gestar, prolongando sua vida útil na propriedade (Mellado et al. 2006).
Assim, para conseguir entender os protocolos de indução de lactação, é necessário primeiramente compreender a dinâmica envolvida por trás da fisiologia da glândula mamária e da sua lactação. Foi a partir desse conhecimento que os primeiros protocolos puderam surgir. Dessa forma, tem-se a mamogênese, que é o período de crescimento da glândula mamária no qual ocorre o desenvolvimento final dos ductos e do sistema lóbulo-alveolar. Nesse processo envolvem-se os hormônios estradiol (E2) e progesterona (P4), que são inicialmente liberados pelos ovários e, posteriormente, pela placenta durante a gestação (Tucker, 2000).
Os primeiros estudos mostraram que o momento final da gestação do animal poderia ser recriado, baseando os protocolos em hormônios esteroides. A progesterona permanece elevada durante toda a gestação, enquanto o estrogênio possui uma maior concentração na segunda metade da gestação, o qual induz um grande crescimento alveolar neste período (Erb, 1977; Tucker, 1987). Com isso, a glândula mamária alcança uma maturação após a primeira lactação, graças a ação de hormônios como o hormônio de crescimento (GH) e suas somatomedinas (IGF-1/IGF-2), estrogênio, progesterona, prolactina e/ou lactogênio placentário (Tucker, 2000).
A fase de secreção de leite e de colostro são denominadas lactogênese e colostrogênese, respectivamente. Nelas ocorre queda dos níveis de P4 e alta de E2, que resulta numa liberação de prolactina (Tucker, 2000). Existe também a galactopoise, que é o processo de manutenção da produção de leite, no qual é necessário que haja a contínua secreção dos hormônios prolactina, GH, glicocorticoides; triiodotironina (T3) e tiroxina (T4); ocitocina; insulina e paratormônio (Tucker, 2000).
Protocolos mais utilizados
Dessa forma, vários protocolos de indução à lactação podem ser desenvolvidos e aplicados no manejo de uma fazenda. Os mais utilizados atualmente consistem da seguinte maneira:
-1° ao 8° dia: aplicação de P4 e E2
-9° ao 15° dia: aplicação de E2
-16° dia: aplicação de prostaglandina
-17° dia: sem nenhuma aplicação
-18° ao 20° dia: aplicação de corticoides (dexametasona)
São necessários também cinco dias de adaptação à ordenha, feito do 17° ao 21° dia. O animal passa a ser ordenhado no vigésimo segundo dia, após passados os vinte e um dias de protocolo. Além disso, a somatotropina recombinante bovina (BST- r) deve ser aplicada nos dias 1,8,15 e 22.
Custo de um protocolo de indução de lactação
De acordo com o estudo elaborado pela Fundação Roge, o custo de um protocolo de indução de lactação no qual se utiliza os hormônios progesterona, prostaglandina, dexametasona e bst, varia em torno de R$300,00 a R$500,00. Neste mesmo estudo, foram avaliados animais submetidos ao protocolo e a resposta de cada um frente a ele. Como resultado, foi possível analisar que houve animais produzindo menor quantidade de leite induzidas e animais que obtiveram uma média de leite superior em relação à lactação natural.
Desse modo, destaca-se a importância de saber utilizar um protocolo de indução de lactação, no qual só é justificável em casos de animais de grande valor genético e maior produção, uma vez que aquelas matrizes que não respondem positivamente ao protocolo irão gerar um custo alto em relação ao custo do leite, inviabilizando – o.
Em comparação, tem-se ainda outro estudo realizado nas fazendas do PDPL/PCEPL – UFV, no qual foi demonstrado êxito nos lotes submetidos ao procedimento, mostrando que cerca de 85% dos animais induzidos obtiveram sucesso. Os animais demonstraram uma lactação média, corrigida para 305 dias, de 7.284kg, com média de 23,88kg/dia. Isso equivale a 94% da produção normal.
Além disso, foi avaliado o custo beneficio da indução, evidenciando que, para um investimento médio de 341,00 R$/cab, obteve-se um excelente custo benefício, no qual para cada real investido, houve um retorno de R$ 4,79, considerando uma margem líquida de 1.527,30 R$/cab.
Por fim, apesar de ainda serem necessários ajustes para que esta tecnologia possa diminuir a variabilidade de resposta e de produção leiteira em cada animal, ao mesmo tempo se faz viável quando aplicada corretamente, aumentando a rentabilidade e a produtividade das fazendas.
Priscila Carla de Matos
Marcus Vinicius Castro Moreira
Referências:
Mellado M, Nazarre E, Olivares L, Pastor F, Estrada A. Milk production and reproductive performance of cows induced into lactation and treated with bovine somatotropin. Anim Sci, v.82, p.555-559, 2006.
Tucker H. Hormones, mammary growth, and lactation: a 41-year perspective. J Dairy Sci, v.83, p.874-884, 2000.
Tucker HA. Quantitative estimates of mammary growth during various physiological states: a review. J Dairy Sci, v.70, p.1958-1966, 1987.
Souza I. Protocolo de Indução à Lactação visando o custo benefício em vacas leiteiras: relato de caso. Fundação Roge
Henrique O. INDUÇÃO DE LACTAÇÃO: uma alternativa viável. PDPL/PCEPL – UFV