O desenvolvimento de um programa de Gestão de Risco Ambiental é de extrema importância para a atividade leiteira. Toda propriedade rural deve conhecer e manejar adequadamente os resíduos gerados por seus processos produtivos a fim de mitigar danos ambientais e garantir a segurança alimentar do produto.
Cada atividade agropecuária gera um tipo diferente de resíduo. A produção leiteira se caracteriza como sendo uma atividade que exige do produtor uma diversificação de atividades.
Em uma fazenda leiteira ocorre o consumo de materiais para a produção de alimentos para o gado (agrotóxicos, sementes, adubos, etc.). Efluentes são gerados pela limpeza das instalações, fezes e urinas dos animais. O lixo doméstico é acumulado devido às atividades cotidianas da família. Também ocorre o descarte de material veterinário utilizado no manejo do gado.
Portanto, a contaminação do ambiente pode acontecer por meio de diversos fatores relacionados ao manejo indevido dos resíduos.
Dessa maneira, recomenda-se que a empresa rural planeje e execute práticas voltadas para a redução dos resíduos químicos, sólidos e líquidos gerados. Analogamente, é necessário que ocorra o correto acondicionamento e eliminação destes, de modo a garantir o atendimento às Boas Práticas Agropecuárias (BPAs).
Para saber mais sobre o assunto, continue com a leitura.
Manejo de agrotóxicos
Os agrotóxicos são produtos químicos ou biológicos usados na agricultura para controlar pragas, doenças e plantas daninhas. Constituem um dos principais grupos que representam risco ambiental.
Portanto, devem ser manuseados e recomendados por pessoas devidamente capacitadas, pois seu armazenamento, transporte e aplicação exigem preparação da mão de obra.
Armazenamento de agrotóxicos
Conforme legislação vigente, os agroquímicos devem ser armazenados em local de entrada restrita, com sistema de piso impermeável, canaletas ligadas à caixa de contenção permitindo que o efluente seja contido em caso de derramamento.
Além disso, as embalagens devem ser dispostas sobre estrados, contendo seus rótulos e bulas, afastadas da parede e organizadas para possibilitar a circulação dos profissionais autorizados.
No depósito de agrotóxicos, a ventilação deve ser planejada de modo que permita a renovação constante do ar sem que seja possível. Com a finalidade de evitar a entrada de animais por estas aberturas, recomenda-se que todo espaço de ventilação possua tela.
Estas recomendações e exigências valem tanto para o depósito de agrotóxicos quanto para o depósito de embalagens vazias. Sendo que a distância destes para as demais construções deve ser de 30 e 50 metros, respectivamente.
Manuseio de agrotóxicos
Os agrotóxicos devem ser manuseados e aplicados por profissional capacitado. Enquanto o certificado de sua qualificação neste tema deve ser mantido de posse do proprietário.
Além disso, o proprietário deve fornecer o Equipamento de Proteção Individual (EPI) ao funcionário. Lembrando que é necessário o registro formal da compra – por meio da nota fiscal – e da entrega deste material – por meio de documento formal assinado pelo funcionário.
Os agrotóxicos devem ser aplicados na dose recomendada e sob supervisão de profissional capacitado. Posteriormente, a área deve ser sinalizada com o data de reentrada.
A data de reentrada consiste no intervalo de tempo após aplicação em que não é permitida a entrada na lavoura por pessoas sem EPI devido à presença de resíduos do produto nas plantas.
Nas embalagens vazias deve-se realizar, ainda na lavoura, a tríplice lavagem e sua inutilização com furos. No prazo de até um ano, estas embalagens devem ser devolvidas a centrais ou postos de recolhimentos. Este procedimento é conhecido como Logística Reversa.
Medicamentos veterinários
Os medicamentos veterinários quando manipulados indevidamente também constituem risco ambiental. Sendo assim, é recomendado que eles fiquem devidamente guardados em locais arejados, conforme recomendação pelo fabricante e organizados contendo seus rótulos, bulas e uso ao qual se destina.
Ações adequadas de manejo de fármacos veterinários inferem em preservação ambiental e igualmente em maior eficiência no manejo sanitário do rebanho. Inegavelmente medicamentos vencidos, expostos a condições adversas, etc. não apresentam o desempenho curativo esperado quando comparados aos produtos novos.
Resíduos líquidos: efluentes e esgoto doméstico
Os efluentes oriundos da lavagem de equipamentos de ordenha e demais instalações devem ser armazenados em local apropriado como as chorumeiras ou composteiras, evitando que sejam depositados diretamente no ambiente.
Por meio da gestão de risco ambiental eficiente estes subprodutos (esterco, chorume, etc.) podem ser utilizados para adubação de lavouras. Entretanto, necessitam ser devidamente analisados de modo a não gerar lixiviação de nutrientes.
Uma outra alternativa para estes materiais é a produção de biogás a partir da construção de biodigestores. O que poderia trazer à propriedade a redução de custos com energia elétrica, que hoje é 5° item de maior impacto nos custos de produção da atividade leiteira.
Independente do sistema utilizado, é imprescindível que as estruturas de armazenamento e tratamento sejam dimensionadas a fim de conter todo o volume gerado nos processos produtivos.
Outrossim, na estrutura não deve ocorrer a entrada de água da chuva, pois isso pode causar o transbordamento do conteúdo em épocas chuvosas.
Resíduos sólidos: lixo doméstico e materiais veterinários de descarte
Outro meio de contaminação do ambiente são os resíduos sólidos, sendo o lixo doméstico e materiais veterinários de descarte os exemplos. Para estes resíduos, o ideal é que seja realizada a sua segregação e encaminhamento para a reciclagem.
Ademais, dirigir estes resíduos a um aterro próprio ou ao aterro municipal, de modo a evitar a queima destes materiais que não é recomendada, faz parte da gestão de risco ambiental.
Fossa séptica e o tratamento de esgoto doméstico
Em contrapartida, o esgoto doméstico também deve ser tratado por meio da utilização de fossas sépticas. Dentro desta estrutura ocorre a biodigestão do esgoto doméstico reduzindo a carga de agentes biológicos permitindo que posteriormente o material seja usado como adubo orgânico.
A fossa séptica consiste em um sistema com três caixas que devem ser dispostas em sequência permitindo a passagem do material de uma para outra. Nas duas primeiras caixas é necessária a instalação de chaminés de alívio, que são saídas para o ar gerado durante o processo de biodigestão. Na última caixa coloca-se um registro para a coleta do biofertilizante.
Produção segura de leite está diretamente relacionada a gestão de risco ambiental na propriedade
A produção segura de alimentos deve passar pela adoção de boas práticas de manejo em toda a cadeia. A gestão de risco ambiental é primordial para que a imagem geral da propriedade seja condizente com a de um local onde se produz produtos de qualidade.
Sendo assim, gerir resíduos químicos (agrotóxicos, medicamentos veterinários, etc.), sólidos (lixo doméstico) e líquidos (efluentes) é de extrema importância.
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Fontes: AgroMulher, Boas Práticas Agropecuárias na Produção Leiteira – Parte II, Educampo, EMBRAPA, Manual de Construções Rurais – Soja Plus, NR 6, NR 31, Sistema FAEMG