Passo a passo para o manejo de cria de bovinos leiteiros

Publicado em: 14 de janeiro, 2021
cria de bovinos leiteiros

A fase de cria de bovinos leiteiros consiste no agrupamento dos animais em aleitamento, ou seja, é onde os animais permanecem desde o nascimento até o desaleitamento. 

O manejo dessa fase é determinante para que a fêmea atinja a idade reprodutiva em boas condições de saúde e, portanto, na produção de leite quando adulta. Dessa forma, esse texto tem como objetivo orientar sobre os diferentes manejos necessários na fase cria de bezerras em rebanhos leiteiros.

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A bezerra nasceu, e agora?

Desde a concepção, a sanidade do novo animal deve ser almejada. Sendo assim, antes do nascimento deve-se garantir a boa saúde da vaca para que a gestação e o parto aconteçam de maneira menos estressante possível, tanto para a mãe quanto para a bezerra.

Tendo garantido condições adequadas na gestação, após o nascimento o foco deve ser a manutenção da sanidade do recém-nascido. 

E então, a bezerra nasceu, o que fazer? Confira a seguir.

Colostragem

O colostro é o leite produzido pela vaca no final da gestação e tem como característica a maior concentração de sólidos. Além disso, é pelo colostro que a mãe transfere imunidade (imunoglobulinas) ao seu filhote, uma vez que em bovinos isto não acontece via placenta.

A partir do nascimento, em até 6 horas o produtor deve fornecer o colostro ao bezerro, pois a partir desse período a absorção das imunoglobulinas cai significativamente. 

O volume a ser fornecido é de 10% a 12% do peso vivo do recém-nascido. Em muitos casos uma vaca produz grande volume de colostro, portanto, recomenda-se que a propriedade possua um banco de colostro, onde esse excedente seja armazenado à temperaturas de -20ºC.

Além disso, existem diversos métodos para avaliação da qualidade do colostro que é fundamental para a garantia de uma boa colostragem. Um dos métodos mais utilizados devido à sua simplicidade é o refratômetro, em que o grau Brix é associado ao nível de imunoglobulina presente. 

O nível de imunoglobulina ideal para alta qualidade deve ser de 50 mg/mL ou 22% Brix. Caso não apresente este valor, o produtor pode lançar mão do uso de colostro em pó, a cada 15g do colostro em pó aumenta-se 1% de Brix.

A qualidade da colostragem também é mensurada com o uso de refratômetro. Após 7 dias do nascimento é retirada uma amostra do sangue da bezerra e analisada, se o valor encontrado for acima de 8,4% Brix a colostragem ocorreu de maneira eficiente.

Cura de Umbigo

A cura do deve ser iniciada já nas primeiras horas de vida da bezerra. Isso é  fundamental para que a estrutura que antes era ligada ao cordão umbilical cicatrize devidamente. 

Com essa medida, ocorre o impedimento da entrada de patógenos para o organismo do animal. Para isso, deve-se utilizar solução de iodo com concentração de 10%  3 vezes ao dia por 3 dias.

Ademais, o ideal é manter sempre o recém-nascido em local de boa higiene para evitar sua exposição excessiva a agentes infecciosos.

Fornecimento de leite

Existem diversas metodologias para o fornecimento de leite às bezerras. O intuito é proporcionar um bom desempenho dos animais em fase de cria e também no momento do desmame.

No aleitamento convencional o animal recebe de 8% à 10% do peso vivo ao nascimento (PN), aproximadamente 4 litros de leite por dia. Nesse sistema, acredita-se que o animal é estimulado ao consumo precoce de concentrado devido à limitação de leite. Dessa forma, a bezerra seria desmamada de maneira precoce e abrupta.

 No sistema step-down, o volume de leite fornecido ao animal é maior nas 3 primeiras semanas de vida (até 20% do PN) e em seguida o volume seria gradualmente diminuído até o desaleitamento. Este sistema de desaleitamento gradual geralmente é mais vantajoso, pois o ameniza o estresse gerado pelo desmame.

Além disso, o step-down está associado à um maior ganho de peso e produção futura de leite.

Alimentação e desmame

Além do leite, desde os primeiros dias de vida a bezerra deve consumir alimentos concentrados de boa qualidade. O concentrado é responsável pelo estímulo ao desenvolvimento das papilas ruminais.

A alimentação é um dos critérios que podem ser utilizados para o desaleitamento das bezerras. Para isso, o parâmetro recomendado de consumo diário pelo animal deve ser  800g de concentrado. Além disso, as recomendações para máxima eficiência é que o animal seja desmamado próximo aos 60 dias de vida.

O volumoso atua no desenvolvimento da musculatura ruminal e pode ser fornecido a partir da primeira semana de vida.

Ganho de Peso

Para verificar se o manejo da cria está sendo eficiente, é recomendada a pesagem dos animais com frequência mensal para cálculo do ganho de peso diário (GPD).

O GPD da fase de cria deve ser de no mínimo 700g e é calculado por meio da fórmula a seguir:

GPD = (peso atual – peso anterior) (data atual – data da pesagem anterior)

Vermifugação

A vermifugação deve ter início ainda no primeiro mês de vida do animal. Na fase de cria, o vermífugo é ministrado via oral com medicamentos à base de albendazol.  

Tristeza Parasitária Bovina (TPB)

É uma das principais doenças que acometem animais em fase de cria e recria e sua transmissão é por carrapatos e insetos hematófagos. A condição anêmica dos animais é a principal característica dessa enfermidade. 

Para que o tratamento medicamentoso seja efetivo, é necessário que os animais sejam vistoriados regularmente de modo que o diagnóstico seja precoce. Além disso, a infestação por carrapatos dos animais em fase de cria deve ser controlada para que não atinja altos níveis. Dessa forma, garante-se a redução da exposição ao agente disseminador.

A importância do manejo de cria de bovinos leiteiros 

Todos cuidados durante a fase inicial da vida da bezerra terão reflexo em sua sanidade e produção quando adulta. Portanto, os custos com o correto manejo de cria de bovinos leiteiros são compensados no longo prazo.

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Fontes: Embrapa, Fundação Roge, Informativo do Leite PDPL/PCEPL-UFV Edição 352, Revista Leite Integral