Cana-de-açúcar e capim-elefante na alimentação de bovinos leiteiros

Publicado em: 01 de fevereiro, 2021
Cana-de-açúcar

A sazonalidade do clima pode limitar a produção de volumosos de modo a comprometer a alimentação dos bovinos leiteiros. Dessa forma, optar por culturas que permitam alta produção e em diferentes épocas do ano, como a cana-de-açúcar e o capim-elefante é uma alternativa eficaz para driblar essa limitação.

Sendo assim, o plantio de capim-elefante e/ou cana-de-açúcar é uma possibilidade de variação na produção volumosa de uma propriedade leiteira. Além disso, o cultivo desses alimentos é relativamente mais simples que o de milho para silagem, por exemplo. Portanto, são excelentes opções para atender demandas nutricionais de animais de baixa produção e também de animais em fase de recria.

Quer saber mais sobre o cultivo e fornecimento ao gado de cana-de-açúcar e capim-elefante? 

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Capim-elefante

O capim-elefante (Pennisetum purpureum) é uma cultura perene de grande porte. Possui também um alto potencial de produção de biomassa por hectare, podendo chegar a três cortes em uma mesma área, trazendo a possibilidade de ser utilizado como componente na alimentação de bovinos leiteiros.

Como principais características dessa forrageira podemos citar a longevidade agronômica, ou seja, uma capineira pode permanecer sem renovação por mais de 5 anos, e sua adaptação ao clima tropical e a baixas altitudes. Além disso, possui boa resistência à seca, pragas e doenças.

Dessa forma, em muitos casos onde não há possibilidade do plantio de milho, o capim-elefante é uma boa alternativa de volumoso.

Ademais, quando é utilizado o capim, é importante a complementação com concentrados na dieta, pois o capim apresenta teores de proteína em torno de 6% e energia (NDT) por volta de 50% sendo insuficiente para atender toda a demanda nutricional do animal.

Cana-de-açúcar 

A cana-de-açúcar (Saccharum spp.) é uma gramínea perene e à semelhança do capim-elefante, desempenha alta produção de biomassa. É adaptada à regiões de clima tropical, quente e úmido.

Assim, é uma boa opção para alimentação de bovinos leiteiros devido às concentrações de carboidratos solúveis. No entanto deve ser usada com cautela, pois apresenta baixa qualidade da fibra (FDN). Além disso, também pode ser fornecida in natura ou ensilada.

Um costume muito antigo é denominar a cana como sendo “cana de ano” ou “cana de ano e meio”, sendo que a diferença entre elas é a época de plantio. A “cana de ano” é plantada no início do período chuvoso (por volta do mês de outubro) e colhida na seca já do próximo ano. A “cana de ano e meio” é plantada no final do período das chuvas (por volta do mês de janeiro) e colhida apenas no seca do próximo ano, ou seja, seu ciclo dura em torno de 15 a 18 meses.

As principais vantagens da “cana de ano e meio” em relação à “cana de ano” é que ao ser plantada no final das águas a planta ainda possui condições de temperatura e disponibilidade hídrica suficientes ao seu desenvolvimento. No entanto, ao entrar o período seco a incidência de pragas e doenças diminui. Além disso, as raízes se aprofundam no solo em busca de água trazendo à planta maior sustentação.

Plantio de capim-elefante e cana-de-açúcar

É recomendável que a área de plantio do capim-elefante seja próxima ao local de fornecimento para reduzir custos com transporte e facilitar os manejos, visto que prioritariamente os cortes acontecem em período chuvoso. No caso da cana, devido ao menor número de cortes ao longo do ano, não há necessidade. 

Com a área definida inicia-se os manejos para o plantio propriamente dito. O primeiro passo é a realização de amostragem de solo para análise. Para culturas perenes é ainda mais importante que as análises sejam realizadas em maiores profundidades, no mínimo de 0 a 20 centímetros e de 20 a 40 centímetros. 

Com os resultados das análises em mãos, é possível recomendar as correções do solo, calagem e gessagem e as adubações para incremento na fertilidade dele. Dessa forma, pretende-se que o solo ofereça condições adequadas ao crescimento radicular da cultura e, consequentemente, uma boa sustentação para todo seu ciclo produtivo evitando, por exemplo, o acamamento.

Tanto a cana quanto o capim devem ser plantados em sulcos e por meio de mudas. O espaçamento entre sulcos recomendado é de aproximadamente 1 metro e com 30 a 40 centímetros de profundidade. O adubo de plantio deve ser depositado no fundo do sulco e coberto por uma camada de solo.

Escolha das mudas

Gasta-se em torno de 7 e 15 toneladas de mudas de primeiro corte para o plantio de 1 hectare de capim e de cana, respectivamente. As mudas devem ser dispostas no sulco de plantio em duplicata e no sistema pé com ponta, ou seja, uma com ápice virado para esquerda e outra com ápice voltado para a direita. Dessa forma, garante-se que haja em torno de 16 a 18 gemas por metro de sulco.

Em seguida, procede-se com o corte das mudas em toletes de 2 a 3 gemas na região dos entrenós. Esses procedimentos visam quebrar a dominância apical das gemas e proporcionar uma germinação uniforme das plantas. Por fim, as mudas devem ser cobertas por uma camada de 10 centímetros de solo.

Tratos culturais

Por se tratar de culturas com grandes semelhanças, os tratos culturais também são similares. A capineira e o canavial devem ser mantidos com mínima infestação de plantas daninhas (PD), de modo a não comprometer o desempenho da cultura. 

Isto deve ocorrer principalmente no início do desenvolvimento das plantas, pois após a formação do dossel o próprio sombreamento se encarrega do controle das PDs. Além disso, no momento da colheita da cana acontece pode-se realizar a desfolha da planta para que seja mantido na área a palhada para cobertura do solo.

Após cada corte é necessário fornecer nutrientes para que a planta possa novamente produzir. Portanto, é imprescindível realizar a adubação de cobertura e a adubação após o corte. 

Colheita

Tanto o capim-elefante quanto a cana-de-açúcar podem ser utilizados por meio do seu fornecimento in natura ou também na forma de silagem. Para oferecer ao gado de leite esses alimentos in natura é necessário seu corte e picagem diários, o que pode aumentar a dependência da mão de obra. 

No caso da silagem, devem ser colhidos e picados em partículas de 1 a 2 centímetros e posteriormente compactado em um silo. Principalmente para a produção de silagem de cana é importante o uso de inoculantes para que a fermentação ocorra da forma correta.

A cana e o capim são colhidos cortando-se rente ao solo. O ponto de colheita da cana é obtido pela análise do grau Brix utilizando-se do refratômetro. Deve-se coletar plantas ao longo da lavoura de forma aleatória. Após a coleta a análise se dá da seguinte forma:

Em cada planta deve ser analisado o sumo do “pé” e o sumo da “ponta”, quando a relação dos dois graus Brix obtidos for maior que 85% ou acima de 20° Brix a colheita pode ser iniciada.

Qual alimento usar?

É importante ressaltar que a decisão do uso de determinado alimento em detrimento do outro deve ser tomada com base no conhecimento prévio da condução da cultura e das suas características nutricionais. Ademais, deve-se entender que cada alimento oferece vantagens e desvantagens e o uso simultâneo também pode ser uma opção.

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Fontes: Embrapa, Revista Leite Integral, Rural Pecuária