Quando se trata de produtividade, é importante que o produtor identifique de acordo com o seu sistema operacional e econômico o número de ordenhas que mais se adeque à realidade da sua propriedade. Dessa forma, a frequência de ordenha deve corresponder ao potencial da sua exploração. 

Número de ordenhas

Geralmente, rebanhos leiteiros cuja produção é semi-intensiva utilizam duas ordenhas ao dia. Essa opção condiz com os investimentos no equipamento de ordenha, nas instalações e nos custos operacionais. Entretanto, uma terceira ordenha poderia levar ao incremento na produção de leite dos animais. Sendo assim, a terceira ordenha pode ser uma ferramenta utilizada com o intuito de diluir os custos fixos e aumentar a produção de leite. Entretanto, não devem ser esquecidos os custos por trás da sua implementação, como energia elétrica, mão de obra, matérias de limpeza de ordenha …

Existem inúmeros trabalhos que comprovam que o aumento do número de ordenhas leva ao aumento da produção de leite (KNIGHT e DEWHURST, 1994; DAHL, 2005; BERNIER  – DODIER et al. 2010). Passar de duas para três ordenhas pode aumentar a produção de 6 a 25% (KNIGHT e DEWHURST, 1994) e, para tanto, a viabilidade econômica de manter tal sistema de produção deve ser estudada. Dessa forma, o produtor deve se atentar ao critério de produtividade/produção, e não de raça, a fim de determinar o número de ordenhas mais adequado para sua propriedade. 

Clarck et al (2006) compararam sistemas de vacas leiteiras a pasto, sendo realizada uma ou duas ordenhas diárias, avaliando a produção de leite, produção de Matéria Seca (MS) e contagem de células somáticas (CCS) de vacas Holstein-friesians e Jerseys. As vacas Hosltein-Friesians ordenhadas uma vez produziram 31,2% a menos de leite e 29,4% menos de MS, quando comparadas com as Hosltein-Friesians ordenhadas duas vezes ao dia. As Jerseys ordenhadas uma vez produziram 22,1% a menos de leite e 19,9%  a menos de MS. A produção de leite por hectare foi 17,7% e 9% menores para Hosltein-Friesians e Jerseys, ordenhadas uma vez em relação às ordenhadas duas vezes ao dia, respectivamente. 

Composição do leite

Vacas ordenhadas uma vez possuíram maior CCS durante todo o ano para as duas raças. O maior número de ordenhas não somente se relaciona ao aumento de produção como também interfere na persistência da lactação, tornando-a mais prolongada (BERNIER  – DODIER et al. 2010). Dois terços do aumento de produção de leite são devido à melhor alimentação e manejo e um terço devido à menor pressão do úbere. (NEGRÃO, 2004)

É importante destacar que não há mudança significativa na composição do leite diante das diferentes possibilidades de frequência de ordenha. Observa-se apenas uma diminuição no percentual de gordura, oriundo do aumento de produtividade. Isso porque quanto maior a produtividade do rebanho, maior o fornecimento de concentrados na dieta e, consequentemente, menor o percentual de gordura do leite (DIAS, 2005). Outro fator observado é a melhora da saúde da glândula mamária, refletido através de menores índices de mastite clínica e de células somáticas (DAHL et al. 2004). Isso ocorre devido ao menor stress a que o úbere é submetido e à retirada de leite. Entretanto, para que não haja efeito inverso, é necessário o perfeito funcionamento da rotina e dos equipamentos de ordenha (DIAS, 2005).

Custos adicionais

O aumento do número de ordenhas gera custos adicionais que devem ser levados em conta antes da sua implementação. A mão de obra se faz o item de maior representatividade, seguida pelos materiais utilizados na sala de ordenha, energia elétrica e pela depreciação dos equipamentos. A principal forma de reduzir o impacto da depreciação do equipamento de ordenha seria por meio do aumento da escala de produção (BARBOSA et al. 2013) 

Além disso, devem ser contabilizados o aumento com gastos na alimentação, uma vez que o uso de concentrados e a necessidade de suplementação alimentar acompanham proporcionalmente o aumento da produção de leite. 

E então? Viável ou não?

Aqui estão os resultados de uma fazenda que fez essa mudança para três ordenha (2010) :

Fonte: Próprio autor

Nessa fazenda, houve aumento de 18% da produção e mais de R$ 7 mil reais/mês  no “bolso”. Ou seja, nesse exemplo foi viável a inclusão da terceira ordenha. Uma dica importante é que além da produtividade das vacas deve-se olhar o número de animais para que se tenha escala e assim, seja viável.

Sendo assim, para optar pela adoção de três ordenhas na propriedade, técnico e produtor devem levar em consideração o preço dos insumos e do leite, assim como o aumento da mão de obra e outros tantos fatores importantes. E somente após analisar e calcular minuciosamente os custos e benefícios deste sistema é que se pode decidir sobre a implementação da terceira ordenha.

Priscila Carla de Matos – Estudante de medicina veterinária

Marcus Vinicius Castro Moreira – Médico Veterinário

Referências:

KNIGHT, C.H.; DEWHURST, R.J. Once daily milking of dairy cows: relationship between yield loss and cisternal milk storage. J. Dairy Res., v.61, p.441-449, 1994.

DAHL, G.E. Frequent milking in early lactation: considerations for implementation. In: FLORIDA DAIRY PRODUCTION CONFERENCE, 42., 2005, Gainesville. Proceedings… Gainesville: [s.n.], 2005.

BERNIER-DODIER, P.; DELBECCHI, L.; WAGNER, G.F. et al. Effect of milking frequency on lactation persistency and gland remodeling in mid-lactation cows 1. J. Dairy Sci., v.93, p.555-564, 2010.

Clarck D. A. et al.  A systems comparison of once versus twice daily milking of pastured dairy cows. Journal of Dairy Science, 89:1854-1862, 2006

DIAS, H.S. Ordenhar: quantas vezes por dia? 2005. 

ERDMAN, R.A.; VARNER, M. Fixed yield responses to increased milking frequency. J. Dairy Sci., v.78, p.1199-1203, 1995.

BARBOSA, G. L. et al. Viabilidade econômica da terceira ordenha em sistemas de produção de leite com ordenhadeira tipo circuito aberto. Em: Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.65, n.4, p.1123-1130, 2013