Com a queda no preço do leite e alta no valor da @ do boi gordo e de bezerros, muitos produtores têm se questionado quanto ao uso da inseminação artificial e pensado em usar o boi de corte (o mais comum é o Nelore) para cobrir as vacas. E a pergunta que o técnico tem que responder é sobre a viabilidade em se adotar essa medida.
Na pecuária leiteira muitos temas são discutidos com muita paixão e esse não deixa de ser um deles, e assim, vamos tentar colocar números para discutirmos esse assunto, e também discutir alguns fatores que chamo de não mensuráveis.
Sistema extensivo
Inicialmente, vamos pensar em produtores de sistema extensivo, com média diária por vaca de até 7 litros, com idade ao primeiro parto por volta de 40 meses, e recria basicamente feita a pasto e sal. Vamos pensar também que seja uma fazenda com 30 vacas, intervalo de partos de 16 meses, um funcionário na lida.
Imaginando esse cenário, teríamos os seguintes números, apresentados na Tabela 1:
Nesse cenário, teríamos um custo total de R$ 1.005,67 por bezerro(a) desmamado, sendo que o custo de maior relevância seria o leite consumido pelos bezerros(as). Nesse valor estamos computando também um índice de mortalidade de 10% nessa fase.
Viabilidade econômica
Agora, para fazermos uma análise de viabilidade teríamos que computar a Renda nesse cenário. Avaliando a alimentação fornecida e a observação de campo, teríamos bezerros(as) leiteiros desmamados com 4 @ em média. Já se usarmos um boi de corte (Nelore, por exemplo), teríamos bezerros desmamados mais pesados (5@), em virtude da maior resistência a endo e ectoparasitas além de diferenças em exigências nutricionais e sanitárias
Segundo preços praticados na região leste de Minas, temos os valores de R$ 300,00 para machos leiteiros. Em relação às fêmeas leiteiras, estamos conseguindo um valor e meio da @ do boi gordo. Já o macho cruzado com Nelore tem sido comercializado a R$ 350,00 por arroba (vide tabela 2). Normalmente, temos uma diferença entre R$ 50,00 a R$ 100,00 por arroba para esses animais, e em épocas de fartura de bezerros tem-se muita dificuldade em vender esses machos leiteiros (o que não é a situação de agora). Nesse cenário, todos os produtos (machos e fêmeas) são viáveis economicamente, visto que a renda é maior que o custo.
Tabela 2 – Previsão de Peso a desmama e diferentes preços praticados
Bom, e agora, como saber qual o mais viável? Para isso vamos continuar a avaliação da fazenda acima e fazer uma avaliação do patrimônio em rebanho obtido nos dois cenários, como apresentado na tabela 3.
Tabela 3 – Fazenda com 30 vacas, 22 partos por ano
A partir dessas premissas podemos constatar que é viável para esse produtor usar o boi de corte nas vacas e buscar a reposição fora de sua fazenda, pois há uma diferença de R$ 5.500,00 no período favorável a adoção desse cruzamento.
Fatores não mensuráveis
Nesse contexto ainda cabe à avaliação daquilo que chamo de fatores não mensuráveis, muitas vezes culturais. Como por exemplo:
- Disposição do produtor em mudar (adotar tecnologia) e corrigir os gargalos para ter uma cria e recria eficientes.
- Habilidade ou Competência da Fazenda (produtor, colaboradores) em ter uma cria e recria eficientes.
Mas será que isso é válido para todo sistema de produção? Será que não seria mais viável usar sêmen sexado ou FIV para garantir sua reposição e colocar o boi nas demais?
Sistemas intensivos – Tecnificados
Nesses sistemas mais tecnificados há um maior cuidado com os animais na fase de Cria e Recria. Além disso, é comum que haja maiores investimentos em alimentação, estrutura, o que leva a um desempenho melhor desses animais. Ou seja, maior ganho de peso ponderal. Como podemos observar na tabela 4, os custos na fase de Cria são de R$ 883,56 (considerando 10% de mortalidade), e destaca-se os gastos com aleitamento, cerca de 75% do valor total.
Custo de produção de bezerros em sistemas mais tecnificados
Por outro lado, a fase de recria até os 210 dias, idade que é mais comum de venda de bezerros em nossa região, merecem destaque os gastos com concentrado, 65% do custo total, e gasto com volumoso, cerca de 14% do custo total. O custo da bezerra ou bezerro nessa fase de vida já computada a mortalidade seria de R$ 1.832,70.
E a renda obtida com a venda do boi de corte?
Como podemos observar na tabela 5, essa melhoria nos cuidados com os animais leva a um desempenho maior. Para encontrar esses valores de peso foi observado o desempenho de animais mantidos nesse sistema em três fazendas assistidas na região de Viçosa. Já os valores por arroba são valores praticados na região também.
Lembrando que o valor de fêmeas leiteiras é muito subjetivo e depende também da genética do rebanho, da marca da fazenda, dentre outros fatores. Mas dito isso e considerando tais valores, já nos chama a atenção o fato de que a criação dos machos leiteiros consegue apenas empatar com os custos. Por outro lado, a fêmea leiteira e os animais cruzados (boi de corte), conseguem ter uma boa margem. Dessa forma, podemos dizer que uma boa oportunidade de ganho para esses produtores é o uso do sêmen sexado e a venda das fêmeas excedentes, pois o momento está muito oportuno.
Tabela 6- Peso, valor por arroba e valor total
Então, qual é o mais viável? Vejamos a tabela 6, que traz o patrimônio dos animais em rebanho e, assim, aquele que tem o maior valor são os animais especializados, já que os custos são os mesmos.
Tabela 7- Valor do total de animais em cada situação
Então, vale a pena?
Portanto, para sistemas mais intensivos não compensa usar o boi de corte nas vacas leiteiras, mesmo o macho leiteiro apenas empatando a receita com a despesa. Isso porque, como a fêmea é muito valorizada, o retorno é bem maior. No exemplo dado, foi cerca de R $9.000,00 para a fazenda que não usa o boi de corte.
Ao finalizar esse artigo, destaco a importância do consultor em demonstrar as contas de receitas e despesas ao produtor, bem como, saber aplicar as tecnologias disponíveis no local ou momento certo.
Marcus Vinicius Castro Moreira – Médico Veterinário