Qual a relação entre controle de mastite e qualidade do leite?

Publicado em: 11 de janeiro, 2021
mastite

Muitos são os desafios da produção leiteira para oferecer segurança alimentar aos consumidores. Entretanto, a qualidade do leite é uma busca constante em propriedades leiteiras, seja pela melhoria na higiene durante o processo produtivo ou pelo controle de mastite.

Pensando neste desafio, neste texto serão abordados alguns aspectos da qualidade do leite com enfoque no controle de mastite dos rebanhos. Continue com a leitura para mais informações.

A importância do correto diagnóstico da mastite

A mastite consiste em uma infecção na glândula mamária e é uma realidade com a qual o produtor deve conviver, manejando seu rebanho sempre visando minimizar seus efeitos. 

Além disso, pode se apresentar na forma clínica ou subclínica. A mastite clínica é diagnosticada pelo teste da caneca de fundo preto, pois nestes casos o leite pode apresentar grumos e até mesmo sangue. Em contrapartida, a mastite subclínica pode ser detectada por meio do California Mastitis Test (CMT) ou análise de CCS individual. E cada um dos tipos, possui uma recomendação distinta de tratamento.

Diversos são os microrganismos causadores da doença, sendo que as bactérias são as mais comuns. As bactérias causadoras de mastite são as gram-positivas e gram-negativas. No primeiro caso, o uso de antibióticos intramamários é recomendado, já para as gram-negativas, não é sempre que há necessidade. Isto ocorre, pois o próprio organismo da vaca pode combater a infecção.

Para saber qual o patógeno é o responsável pela infecção, é necessário que o leite dos animais seja analisado individualmente. O processo de análise pode acontecer na própria fazenda ou em laboratórios externos.

Com os resultados em mãos é possível indicar o tratamento mais adequado  para combate de um patógeno específico. Muitas vezes o uso de antibióticos sem o conhecimento dos agentes causais pode estar selecionando os microrganismos resistentes. 

Essa nova metodologia é chamada de terapia seletiva e visa a diminuição do uso indiscriminado de antibióticos e, consequentemente, a redução nos custos com medicamentos e menor descarte do leite.

Entretanto, não somente o resultado da análise deve ser utilizado para iniciar esse protocolo de tratamento. Todo o histórico individual e do rebanho deve ser avaliado.

Contagem de Células Somáticas (CCS)

A CCS é o indicativo de descamação das células do epitélio da glândula mamária devido a infecção. Portanto, sofre aumento quando o animal apresenta mastite. O limite previsto pela IN 76 é de uma média trimestral de no máximo 500.000 CS/mL.

O recomendado é que pelo menos mensalmente seja realizada análise individual do leite a fim de conhecer a CCS de cada vaca em lactação. Quando isto não é possível, o teste CMT pode fornecer um direcionamento ao produtor, pois há relação entre o escore do teste com a CCS do leite analisado, conforme demonstrado na tabela abaixo:

Figura 1 – Relação entre resultado no teste CMT  e CCS do leite.

Fonte: Bula da Solução CMT.

A análise de CCS (laboratorial ou pelo CMT) é imprescindível para a tomada de decisão em uma fazenda leiteira. Em posse dessas informações é possível confeccionar uma linha de ordenha, garantindo que as vacas com melhor sanidade do úbere não sejam expostas aos patógenos presentes naquelas com alta CCS.

Outra possibilidade do uso desses dados é o descarte de animais com infecções crônicas.

Além disso, mais algumas dicas para controle de CCS podem ser citadas, tais como:

  • Realização do teste da caneca de fundo preto para correta detecção da mastite clínica;
  • Tratamento adequado da mastite;
  • Utilização de pré e pós-dipping;
  • Manter limpo o ambiente de descanso dos animais.

Contagem Padrão em Placas (CPP)

A contagem padrão em placas (CPP), antiga contagem bacteriana total (CBT), refere-se à “contagem de microrganismos capazes de formar colônias contáveis em meio de cultura sólido e sob incubação aeróbica por setenta e duas horas a uma temperatura de trinta graus Celsius”, conforme definição da IN 77. 

Em outras palavras, a CPP avalia qual a quantidade total de microrganismos presentes no leite cru, sem discriminar os grupos específicos (bactérias, leveduras e fungos filamentosos). Sendo assim, sua utilização é muito importante para o entendimento da eficiência dos processos higiênicos durante a ordenha e armazenamento do leite.

Dessa forma, a manutenção de uma boa higiene é fundamental para que os níveis de CPP estejam dentro do recomendado. Segundo a IN 76, a média trimestral da CPP deve ser de no máximo 300.000 UFC/mL.

Portanto, algumas dicas para melhorias na CPP do leite são:

  • Garantir que os tetos sejam devidamente limpos antes de iniciar a ordenha, impedindo a contaminação com matéria orgânica;
  • Limpar adequadamente os equipamentos de ordenha, tanque de expansão e utensílios que entram em contato com o leite;
  • Para a higienização utilizar produtos específicos para tal finalidade;
  • Utilizar água de boa qualidade nos processos de limpeza;
  • Garantir que o leite permaneça à temperaturas próximas a 3ºC em até 3 horas após a ordenha.

O desafio da qualidade do leite

A manutenção da qualidade do leite em uma propriedade é um grande desafio. No entanto, é fundamental para que no processamento pela indústria os derivados também apresentem boas características qualitativas. 

Sendo assim, a adoção de manejos que visem a entrega de um produto idôneo é parte das boas práticas agropecuárias (BPAs)

Você pode aprender mais sobre esse assunto e diversos outros relacionados à pecuária leiteira acessando nossa Pós-Graduação de Produção de Gado Leite.

Fontes: Copagril, Informativo do Leite PDPL/PCEPL-UFV Edição Especial, Instrução Normativa 76 e 77, Tecnologia do Campo