O uso da água na pecuária leiteira deve ser realizado a fim de manter sua disponibilidade em quantidade e qualidade. O correto manejo dos recursos hídricos nas propriedades rurais perpassa pelo entendimento da água como alimento e insumo.
Como insumo, a água é utilizada na produção de alimentos para os animais – mesmo que não sejam produzidos em sistemas irrigados -, na limpeza e desinfecção de equipamentos e utensílios, higienização de tetos para ordenha, no conforto animal, entre outros.
Como alimento é adquirida pelos animais tanto na sua forma líquida quanto pela ingestão dos concentrados e volumosos em sua dieta..
Sendo assim, por meio deste texto queremos trazer a você leitor informações sobre a água e relacioná-la com o sucesso na pecuária através do entendimento das Boas Práticas Agropecuárias.
Continue com a leitura para saber mais.
Água em quantidade
O corpo dos bovinos possui entre 50% e 80% de água em sua composição, dependendo da idade. Sendo que a perda de água corporal próxima a 10% já pode ocasionar a morte. No leite de vaca, a água representa 87% do volume total. Estes valores demonstram a importância do correto fornecimento deste recurso em abundância para a dessedentação dos animais.
Da mesma forma que a quantidade de água no organismo dos animais sofre variação ao longo de seu ciclo de vida, isso também ocorre com a ingestão. Estas remodelações do consumo de água por bovinos leiteiros ocorrem por fatores fisiológicos, zootécnicos e ambientais, conforme apresentado abaixo:
Fatores que influenciam o consumo de água | ||
---|---|---|
Fisiológicos | Zootécnicos | Ambientais |
Tipo | Tipo de dieta | Umidade |
Tamanho | Ingestão de matéria seca | Temperatura |
Peso | Ingestão de sal | Velocidade do vento |
Idade | Taxa de ganho de peso | |
Genética | Produção de leite |
Fonte: Comunicado Técnico 102 – EMBRAPA
Fatores zootécnicos e ingestão de água
Conforme apresentado na figura acima, os fatores zootécnicos também exercem grande influência na ingestão de água pelos bovinos. Dietas com teores de matéria seca e sais desbalanceados fazem com que o animal tenha necessidade de aumentar o consumo de água para dessedentação.
Ademais, este desbalanço implica em maior uso de nutrientes, o que acarreta em maior custo de alimentação, comprometendo a eficiência econômica da atividade.
Além disso, nutrientes em excesso são facilmente perdidos pelas excreções, podendo acarretar em poluição dos recursos hídricos. Tendo em vista que somente uma parte do que é fornecido o animal precisa para sua mantenção e produção.
Para garantir o correto uso da água na pecuária recomenda-se o acompanhamento e confecção de dietas por um técnico. Dessa forma, o sucesso financeiro e ambiental da produção serão assegurados.
Outro ponto de extrema importância é o uso da água para produção de leite pelas vacas em lactação. O animal terá que ingerir água para sua mantença e, como já mencionado, para a composição de 87% do leite. Neste sentido, vacas leiteiras podem consumir entre 40 e 120 litros de água por dia.
Ingestão de água influenciada pelos fatores ambientais
Os fatores ambientais são importantes para esta relação de consumo de água em quantidade na pecuária leiteira, pois perpassam pelas questões do conforto do animal. A água está diretamente relacionada com a regulação da temperatura corporal e digestão dos alimentos.
Dessa forma, a ambiência também é fator determinante para o consumo de água ideal pelos bovinos e, consequentemente, para seu desempenho produtivo.
Como saber se os animais estão consumindo a quantidade ideal de água?
O uso de hidrômetros é uma ferramenta valiosa neste manejo da água na pecuária leiteira. Para isso, recomenda-se que os hidrômetros sejam instalados na entrada dos bebedouros e que rotineiramente leituras sejam realizadas, o que possibilitará mudanças de manejo para otimização do consumo de água pelos animais.
Além disso, os hidrômetros podem ser instalados nas demais áreas da propriedade, como por exemplo, naqueles locais onde a água é consumida para limpeza das instalações.
Este manejo permitirá ao produtor conhecer a quantidade de água utilizada em cada um dos processos de produção do leite e tomar decisões com base nos dados gerados. Mas além da instalação de hidrômetros, deve-se constantemente vistoriar o sistema hidráulico a fim de prevenir vazamentos.
Qualidade da água e implicações no consumo animal
Em conjunto com a quantidade a ser fornecida, deve-se estar atento à qualidade da água. Além de limitar o consumo, a má qualidade reduz a eficiência dos produtos utilizados na desinfecção e limpeza de equipamentos e utensílios.
De maneira geral, a água utilizada na dessedentação dos animais e na higienização dos equipamentos que entram em contato direto com o leite devem ser de qualidade similar àquela consumida por seres humanos.
Em contrapartida e devido ao fato de que em propriedades rurais as fontes hídricas costumam ser as mesmas para moradias e currais, recomenda-se a realização de análise da água com frequência mínima anual. Os principais parâmetros analisados são dureza, sólidos totais (salinidade), microbiológica (Coliformes totais, Escherichia coli), turbidez, pH e nitrato.
Dureza
A dureza representa a soma das concentrações de íons cálcio e magnésio na água o que infere na precipitação de sabões. Quando a água possui dureza elevada (acima de 360 ppm) ocorre a formação das chamadas “pedras do leite” nas tubulações dos equipamentos de ordenha e do tanque.
As regiões das “pedras do leite” constituem local de proliferação de microrganismos interferindo na qualidade do leite que por ali passa e, também, aumentam a necessidade de uso de detergentes ácidos para sua eliminação. Isto ocorre porque a água dura diminui a eficiência dos detergentes utilizados nos processos de limpeza.
Sólidos totais
Também conhecido como salinidade, os sólidos totais são partículas de minerais e outros compostos presentes na água. Apresenta grande influência no gosto da água e pode ocasionar em efeitos laxativos.
Microbiologia da água
Os microrganismos presentes na água podem ser agentes patogênicos quando em contato com o úbere (causando mastite) ou consumido pelos animais e, também, contaminantes do leite a partir da água utilizada na limpeza de equipamentos.
O principal grupo de microrganismos que causam estes problemas são os Coliformes, por isso a mensuração regular do nível de Coliformes Totais e E. coli é fundamental para produção segura de leite.
Escherichia coli é um dos principais indicadores de contaminação fecal da água e pode ocasionar graves gastroenterites em humanos.
Dessa forma, o ideal é que não haja presença de Coliformes e E. coli nas fontes hídricas da propriedade. Caso a análise acuse a contaminação por estes microrganismos é necessária a desinfecção com cloro.
Turbidez
A água de boa qualidade deve ser límpida e translúcida, ou seja, não deve haver a presença de sólidos de modo que impeça a penetração da luz.
Sendo assim, a turbidez é caracterizada pela presença de qualquer material suspenso na água que altere a penetração da luz. Exemplos de agentes que causam turbidez são algas, solo, esgoto, entre outros.
pH
Para maior eficiência dos detergentes utilizados na limpeza de tanques e equipamentos de ordenha a água deve ter pH próximo da neutralidade. Quando ácidas as águas além de causarem corrosão dos equipamentos ocasionam a neutralização de detergentes alcalinos. À semelhança disso, águas alcalinas podem neutralizar detergentes ácidos e contribuem para a formação de precipitados.
Nitrato
A principal implicação da presença de nitratos é que quando reduzido a nitrito infere em intoxicação dos animais, uma vez que ocasiona em danos no transporte de oxigênio do sangue para as células, podendo acarretar na morte dos animais.
E então, como garantir o fornecimento seguro de água aos animais?
Como já mencionado, o meio seguro de fornecimento de água aos animais são os bebedouros que devem ser dimensionados de acordo com a categoria que irá utilizá-lo e de modo a permitir a renovação completa de água pelo menos a cada hora.
Devem ser inspecionados diariamente e higienizados no mínimo quatro vezes por semana. A água deve vir de um reservatório devidamente instalado e fechado.
A dessedentação por meio de lagos, rios, córregos e lagoas não é recomendada uma vez que nestas fontes não é possível garantir a qualidade da água ofertada. Além disso, ao acessar estes locais os animais defecam e urinam contaminando o ambiente e também causando assoreamento nas margens.
Correto uso da água na pecuária leiteira = maior eficiência produtiva
A partir dos fatores citados acima, percebe-se que o correto uso da água na pecuária leiteira não é apenas uma questão ambiental, mas também trata-se da eficiência produtiva das fazendas.
Partindo deste entendimento, o produtor poderá tomar decisões que cada vez mais colaborem com o sucesso na pecuária leiteira.
E agora que você já sabe a importância do correto uso da água na pecuária leiteira, que tal se tornar um especialista em produção de leite? Acesse nossa Pós-Graduação de Produção de Gado de Leite.
Fontes: Amaral et al. (2004), Anais I Simpósio de Produção Animal e Recursos Hídricos, Comunicado Técnico 101 e 102 – EMBRAPA, EMBRAPA, Guerra et al. (2011), Limnologia UFRRJ